quinta-feira, 31 de julho de 2014

Flávio Araújo: futuro indefinido e críticas a métodos de treinamento e a formação de jogadores no Brasil

Após nove dias da saída do Sampaio, o técnico Flávio Araújo conversou sobre uma série de assuntos. Preferindo deixar os motivos de sua saída do Tricolor apenas no que falou na coletiva concedida na última terça-feira, o treinador revelou que já começará a ouvir novas propostas.

Além disso, o treinador também fez uma análise de sua passagem no Sampaio e opinou sobre o esquema com três zagueiros, que começa a ser testado em vários clubes após o sucesso de sua execução na Copa do Mundo. Para finalizar, o Flávio criticou a forma como ocorre a formação de jogadores no país, pedindo mais liberdade para o desenvolvimento dos talentos pelo Brasil.

Confira a entrevista com Flávio Araújo

Flávio, uma semana depois da saída do Sampaio já tem algo para o futuro?
- Logo depois que saí do Sampaio, tive um convite do Icasa, mas queria aproveitar o resto do mês de julho como umas férias. Creio que daqui pra frente, daqui a uns cinco dias, se algum clube me procurar a gente vai conversar. Não importa a divisão do clube, o importante é o projeto, se vai brigar para conquistar acessos.

Foram dois anos no Sampaio, intercalados com uma saída para o Remo. Qual a importância desse trabalho na sua carreira.
- Esses dois acessos seguidos, com o título da Série D e o vice da Série C, foram muito importantes na minha carreira. Antes do Sampaio já tinha conquistado dois acessos nacionais, com o Icasa e o América-RN. Mas pelo fato, de o Sampaio Corrêa está há muito tempo fora das principais divisões do futebol brasileiro, realmente foram muito mais importantes

Ao longo desses dois anos no Sampaio, você consolidou o 4-2-3-1, mas nos últimos jogos já começava a testar novos esquemas. Isso significa uma mudança na sua postura como treinador?
- Eu sempre procuro ver jogos, analisar, leio artigos nacionais e internacionais e procuro sempre fazer um parâmetro do que eu vejo e tentar adequar algumas situações novas. Estou sempre atento ao que passa no mundo e sempre tentando atualizar meu grupo sobre isso. O Sampaio foi um dos primeiros clubes do nordeste a atuar com quatro defensores, dois volantes, três meias a frente e um centroavante. Ontem assisti o jogo do Internacional contra o Ceará e o Inter deu muito espaço para o Ceará, coisa que o Sampaio não deu ao Ceará. Eu fiquei muito satisfeito porque vi que nosso trabalho deu resultado enquanto estávamos aí.

Sobre essa questão tática, na Copa do Mundo vimos a Holanda ressuscitar o esquema com três zagueiros, que já passa a ser testado em alguns clubes. Você acha que irá vingar essa nova tendência?
- Na década de 1990 a grande maioria das seleções jogaram com três zagueiros. Nessa Copa, a Holanda mostrou que houve um aprimoramento. A Holanda jogava em um 5-2-3, porque além dos três zagueiros, os dois laterais voltam para compor a linha defensiva. Está havendo uma evolução, principalmente pelos lados do campo no sentido de bloquear esses lados. Eu não acredito que vá predominar nos clubes.

Hoje se fala muito em compactação, porque você acha que os clubes brasileiros tem muita dificuldade nesse aspecto?
- Quando se faz um trabalho sério e inteligente, você compacta, o que eu vejo é um modismo nacional em priorizar somente o treino com campo reduzido. Ninguém consegue compactar um time no campo reduzido, como vou chegar a uma boa compactação de trás pra frente e frente para trás em 100m de campo, se eu só treino em campo reduzido. Uma grande dificuldade nossa é em relação ao aspecto técnico. Eu vi esse Flamengo x Botafogo e quando era 30 anos tínhamos pelo menos seis craques, mas hoje não se vê um grande destaque nos dois times.

Então temos um problema na formação de jogadores? Qual seria a causa desse problema em descobrir novos atletas?
- Vai ter que ter apoio do governo municipal, estadual e federal. Em dois dias em Fortaleza, eu fui no meu bairro, e dos campos que existiam, quando eu era garoto, hoje só existem cerca de 20% deles. O primeiro processo seria fazer campos, quadras de futsal para que o garoto possa começar ali o seu primeiro contato e desenvolver o seu talento. No meu tempo quando eu tinha 12 a 14 anos, tinha mais competição do que tem hoje.

Você acha que hoje se prioriza muito o físico e o técnico antes do tempo correto?
- Infelizmente se cobra muito a parte física e a parte tática, deixando o talento em segundo plano. Nós temos que repensar em relação a isso. Temos que deixar o garoto mostrar o potencial da forma como ele gosta e a partir de certa idade, aos 17 anos, introduzir o conhecimento tático.